darcy ribeiro, ao mesmo tempo que terminava o melhor livro que li em 2000, "o povo brasileiro", também escreveu esse daí do lado, de memórias, "confissões". o melhor livro que li em 2001 e também em 2002, afinal, virei o ano lendo. tricampeão, portanto.
darcy era foda. além de carreiras como político, antropólogo e acadêmico invejáveis, desenvolveu uma das visões mais claras do país que já encontrei. aprendo com ele.
além disso, não é qualquer um que consegue viver a vida gostando tanto e com uma ironia tão fina. segue aí um pedaço:
"O melhor de Freiburg foi um jantar num restaurante que me redomendaram no hotel como o melhor da cidade, que ficava relativamente perto. O maître chegou, me apresentou o cardápio, eu olhei sem entender nada e pedi o prato mais caro. Ele comentou alguma coisa em alemão, eu disse 'ai, ai', e ele saiu. De vez em quando olhava para mim. o cozinheiro, com seu chapelão, também saiu para olhar, mas eu estava lá, firme, esperando o prato para saber o que tinha pedido. A certa altura, me trouxeram uma oficina mecânica, ou seja, uma tábua cheia de pinças, alicates, serra, o diabo mais. Ferramental que eu não imaginava para que servisse. Deixou lá na mesa.
Mais tarde ele trouxe três cachepôs, ou seja, três pratos enrolados em papel crepom, e eu fui ver o que era, arrisquei o olho. Eram saladas de chucrute, de beterraba e de batata. Fiquei esperando, não podia ser isso por aquele preço exorbitante. Afinal, o maître falou comigo, não entendeu nada, nem eu. E foi lá falar com o cozinheiro. Veio então me trazendo o que eu tinha pedido. Era uma enorme de uma lagosta apenas cozida. Olhei espantado para aquele bicho inteiro com cheiro de mar, e o homem, vendo a minha estranheza, usou aquele ferramental para desvestir a lagosta, tirar pedaços e pôr no meu prato junto com as diversas saladas.
Eu, então, pedi um vinho. Escolhi um que ele me recomendou, vendo por sua cara que era muito bom. Tomei aquele vinho, que aliás era tinto. Eu esperava um branco. Paguei a conta e saí. O maître deve ter comentado com seus amigos: 'Esteve aqui um selvagem'." (p. 212-213)
darcy era foda. além de carreiras como político, antropólogo e acadêmico invejáveis, desenvolveu uma das visões mais claras do país que já encontrei. aprendo com ele.
além disso, não é qualquer um que consegue viver a vida gostando tanto e com uma ironia tão fina. segue aí um pedaço:
"O melhor de Freiburg foi um jantar num restaurante que me redomendaram no hotel como o melhor da cidade, que ficava relativamente perto. O maître chegou, me apresentou o cardápio, eu olhei sem entender nada e pedi o prato mais caro. Ele comentou alguma coisa em alemão, eu disse 'ai, ai', e ele saiu. De vez em quando olhava para mim. o cozinheiro, com seu chapelão, também saiu para olhar, mas eu estava lá, firme, esperando o prato para saber o que tinha pedido. A certa altura, me trouxeram uma oficina mecânica, ou seja, uma tábua cheia de pinças, alicates, serra, o diabo mais. Ferramental que eu não imaginava para que servisse. Deixou lá na mesa.
Mais tarde ele trouxe três cachepôs, ou seja, três pratos enrolados em papel crepom, e eu fui ver o que era, arrisquei o olho. Eram saladas de chucrute, de beterraba e de batata. Fiquei esperando, não podia ser isso por aquele preço exorbitante. Afinal, o maître falou comigo, não entendeu nada, nem eu. E foi lá falar com o cozinheiro. Veio então me trazendo o que eu tinha pedido. Era uma enorme de uma lagosta apenas cozida. Olhei espantado para aquele bicho inteiro com cheiro de mar, e o homem, vendo a minha estranheza, usou aquele ferramental para desvestir a lagosta, tirar pedaços e pôr no meu prato junto com as diversas saladas.
Eu, então, pedi um vinho. Escolhi um que ele me recomendou, vendo por sua cara que era muito bom. Tomei aquele vinho, que aliás era tinto. Eu esperava um branco. Paguei a conta e saí. O maître deve ter comentado com seus amigos: 'Esteve aqui um selvagem'." (p. 212-213)
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